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Denise Britto - Publicado em 11-05-2020 13:00
Laboratório busca parcerias na área de manipulação molecular de Covids
Laboratório de Bioquímica e Tecnologias Bioluminescentes do Campus Sorocaba (Foto: Arquivo)
Laboratório de Bioquímica e Tecnologias Bioluminescentes do Campus Sorocaba (Foto: Arquivo)
O Laboratório de Bioquímica e Tecnologias Bioluminescentes do Campus Sorocaba da UFSCar está iniciando um projeto de desenvolvimento de testes bioluminescentes de detecção, rastreamento viral e seleção de drogas para Covid-19. A bioluminescência consiste na produção de luz por organismos vivos e ocorre em insetos como, por exemplo, os vaga-lumes, e também em alguns fungos e animais marinhos. "Os testes bioluminescentes são muito usados em culturas de células e animais, não em humanos. Uma vez que o vírus modificado que infecta a célula a torna bioluminescente, é possível rastrear o vírus em células e modelos animais pela bioluminescência emitida. A partir disso, pode-se desenvolver testes de seleção de drogas antivirais em ensaios pré-clínicos, ajudando a encontrar novas drogas", explica o professor Vadim Viviani, do Departamento de Departamento de Física, Química e Matemática (DFQM-So), que coordena do Laboratório.

O professor da UFSCar, que já foi presidente da International Society for Bioluminescence and Chemiluminescence (ISBC), conta que existem inúmeros trabalhos aplicando luciferases (enzimas capazes de transformar energia química em luminosa) e bioluminescência na área médica. "Quando surgiu a pandemia por Covid-19, fui logo pesquisar na literatura o uso de testes bioluminescentes para esse tipo de vírus e, como esperado, encontrei vários trabalhos publicados. Assim, considerando a expertise do meu laboratório, comecei a procurar potenciais parceiros que trabalhem com Covid-19 para ajudar a desenvolver testes virais bioluminescentes no Brasil, 100% nacionais. Não é uma tarefa simples. Pelo contrário, é muito desafiadora e envolve vários conhecimentos. Meu laboratório, apenas, não tem condição de desenvolver sozinho, mas pode oferecer as ferramentas moleculares e infraestrutura para ensaios bioluminescentes", completa.

Por isso, o projeto está buscando a parceria de grupos que trabalhem com biologia molecular de Covids e desenvolvimento de testes de seleção de drogas. "Nosso laboratório está preparado para fazer a parte de engenharia molecular do vírus, para inserir o gene de luciferase dentro do genoma [material genético] viral, e realizar ensaios bioluminescentes", afirma Viviani.

Ainda de acordo com o professor, "o desenvolvimento de testes bioluminescentes para Covid-19 é muito complexo, pois envolve manipulação em ambientes de contenção com nível de biossegurança que não temos ainda no nosso laboratório. Além disto, a construção do vírus modificado não é trivial, porque demanda manipulação de vírus de RNA [isto é, com material genético] ao invés de DNA, que é mais facilmente manipulável. Assim, precisamos de laboratórios que tenham experiência com manipulação dessa modalidade de vírus". Os parceiros interessados em participar e obter mais informações podem entrar em contato pelo e-mail viviani@ufscar.br.

Segundo Viviani, já existem testes de rastreamento e seleção de drogas por bioluminescência para HIV, herpes, papilomavírus, incluindo Covids, entre outros. "São trabalhos realizados principalmente por grupos europeus, americanos e chineses. No Brasil desconheço o uso dessas tecnologias, com exceção de alguns testes usando kits importados", diz. Enquanto isso, o laboratório da UFSCar já trabalha no desenvolvimento de imunoensaios bioluminescentes, pois não dependem do vírus em si, e conta com o apoio de projetos já financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Sobre o Laboratório
O Laboratório de Bioquímica e Tecnologias Bioluminescentes da UFSCar trabalha com bioluminescência, especialmente enzimas luciferases, sendo um dos líderes mundiais nesse tipo de pesquisa. Ao longo dos últimos 20 anos clonou genes de várias enzimas luciferases de vaga-lumes, tendo o maior banco de luciferases recombinantes do mundo e seus mutantes. O Laboratório também caracterizou essas enzimas, investigou sua estrutura molecular e sua função. Com esses conhecimentos, desenvolveu novas luciferases e seus genes repórteres (genes que conferem bioluminescência as células e tecidos) para finalidades de marcação bioluminescente de células e geração de biossensores intracelulares de pH e metais pesados. O Laboratório conta com vários depósitos de patentes, algumas inclusive licenciadas e com produtos no mercado - desenvolvidos na época em que o professor Viviani trabalhou no Japão.

Para saber mais sobre as atividades do Laboratório, acesse www.biolum.ufscar.br.