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Mariana Pezzo - Publicado em 15-04-2021 15:30
De máscara a móveis, CDMF segue aprimorando partículas antimicrobianas
Elson Longo, Diretor do CDMF, aponta relevância de investimentos perenes em C&T (Divulgação)
Elson Longo, Diretor do CDMF, aponta relevância de investimentos perenes em C&T (Divulgação)
Desde o início da pandemia, o Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF), sediado na UFSCar, vem empreendendo esforços concentrados visando a aplicação do conhecimento produzido ao longo de décadas ao enfrentamento da Covid-19. Esta busca - associada ao desenvolvimento, caracterização e uso de partículas nanoestruturadas a base de prata como agentes antimicrobianos (bactericidas, fungicidas e antivirais) em diferentes materiais -  acontece em parceria com a Nanox, empresa spin-off do CDMF especializada nesses aditivos nanoestruturados.

"Mesmo trabalhando em condições adversas, praticando o distanciamento, a diretriz sempre foi para concentrarmos nossas energias para potencializarmos a contribuição do CDMF. E esta contribuição só é possível por um trabalho construído ao longo de décadas, não só no sentido de pesquisa e produção de conhecimento, mas sobretudo na formação de pessoas, responsáveis, por exemplo, pela Nanox", registra Elson Longo, Diretor do CDMF, um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). "É um exemplo importante da relevância de investimentos e do apoio perene à Ciência e, assim, também do risco que o País corre diante dos sucessivos cortes que vimos testemunhando nos últimos anos", acrescenta.

Já em abril de 2020, apenas 50 dias após a confirmação do primeiro caso de Covid-19 no Brasil, a Nanox, em parceria com uma empresa de brinquedos (que buscava converter sua produção para materiais voltados ao enfrentamento da pandemia), lançou as máscaras reutilizáveis Oto, fabricadas em polímero com as partículas adicionadas. Naquele momento, ainda não havia comprovação da ação virucida do material, mas a ação bactericida e fungicida já prometia colaboração na prevenção de infecções oportunistas.

Posteriormente, colaboração com o Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP) e com o Laboratório de Química Teórica e Computacional da Universitat Jaume I, na Espanha, permitiu verificar a ação das partículas nanoestruturadas especificamente na eliminação do Sars-Cov-2, vírus causador da Covid-19.

Desde então, os aditivos já foram aplicados a diferentes materiais, de tecidos usados na fabricação de máscaras e roupas a, mais recentemente, couro que pode ser usado na fabricação de móveis, vestimentas e outros objetos como carteiras e bolsas. Também foram desenvolvidos filmes plásticos que podem ser usados em embalagens de alimentos e como películas protetoras, por exemplo nas telas de smartphones.

Os resultados obtidos nessas pesquisas foram relatados em dois artigos publicados em periódicos internacionais. O primeiro, em dezembro de 2020, foi publicado no "Japan Journal of Medical Science". Depois, em março deste ano, uma segunda publicação foi feita no periódico "Nanomaterials".

E, além dos avanços, o grupo segue nas atividades de pesquisa, buscando a produção de novos conhecimentos que possam, no futuro, aprimorar os materiais e, assim, também as aplicações já existentes e a serem criadas. Recentemente, por exemplo, mais um artigo, publicado no periódico "Inorganic Chemistry", relatou estudos que, usando diferentes técnicas e métodos experimentais e teóricos, avançaram na compreensão da estrutura, relações entre estrutura e propriedades, rotas de síntese e mecanismos envolvidos nas aplicações pretendidas, o que deve ampliar as possibilidade de produção industrial desses materiais.