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Mariana Pezzo - Publicado em 24-04-2017 10:14
Docentes e estudantes de Biotecnologia relatam experiência internacional
Busca da internacionalização considera o caráter estratégico da área, diz Cristina Paiva. Foto: CCS
Busca da internacionalização considera o caráter estratégico da área, diz Cristina Paiva. Foto: CCS
"Vistas do Pacífico azul e das douradas Montanhas Santa Ynez, emolduradas por palmeiras. O aroma de eucaliptos misturado à brisa salgada do mar. Beleza natural de tirar o fôlego combinada com uma enorme vitalidade intelectual." Assim começa a descrição do campus da University of California - Santa Barbara (UCSB) no site da Instituição, indicando uma paisagem privilegiada que, no entanto, parece ter passado despercebida à professora Cristina Paiva de Sousa, Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia (PPGBiotec) da UFSCar. A docente passou cerca de 10 dias na UCSB em novembro de 2016 mas, ao relatar a experiência, refere-se quase que exclusivamente ao objetivo de criação de oportunidades para os estudantes do Programa.

"Nós identificamos junto aos discentes a demanda pelo estabelecimento de parcerias, por oportunidades enriquecedoras de contato com outras visões, perspectivas, com outras culturas e, também, outras abordagens para problemas semelhantes. A UCSB conta com um centro de pesquisa bastante estabelecido na área da Biotecnologia, e foi por isso que fizemos esse primeiro contato que, junto com outros esforços que vimos empreendendo, visa sobretudo um campo maior de atuação para os discentes do Programa, para estágio, trabalho e qualificação profissional", relata a Coordenadora.

O ponto de partida para a viagem pode ser localizado também no V Simpósio de Biotecnologia da UFSCar, realizado em outubro de 2016, quando docentes do PPGBiotec tiveram a oportunidade de refletir sobre o futuro do Programa em um momento classificado por sua Coordenadora como denso e efervescente. "O PPGBiotec está em uma trajetória de ascensão. Também no final do ano passado fomos agraciados, por exemplo, com o Prêmio Capes de Tese, o que significa que a melhor tese na área em todo o Brasil foi desenvolvida no nosso programa. A busca pela internacionalização, além da ampliação de oportunidades para os discentes e do incremento da visibilidade do Programa, visa também benefícios para a sociedade como um todo, já que a Biotecnologia é hoje reconhecida como uma área estratégica para o País", relata.

Durante a visita à UCSB, a professora da UFSCar foi recebida por docentes, discentes e funcionários do Institute for Collaborative Biotechnologies, vinculados aos departamentos de Química e de Bioquímica da universidade californiana, e teve a oportunidade de apresentar os grupos de pesquisa do PPGBiotec. "A perspectiva é que os estudantes de lá venham desenvolver atividades de pesquisa na UFSCar, inicialmente no Laboratório de Microbiologia e Biomoléculas, o LaMiB, que coordenamos, e que nossos estudantes desenvolvam atividades lá, especialmente na área de catálise. Neste momento, estamos no processo de agendamento de uma visita à UFSCar, e nossa expectativa é que esse primeiro contato renda frutos, inclusive mais amplos do que os previstos inicialmente, ou seja, ampliando o campo para atuação dos estudantes, já que outros docentes do PPGBiotec já se interessaram pela parceria também depois que apresentamos os resultados desse primeiro contato em nossa volta ao Brasil", registra Sousa.

Graduação
A experiência internacional de três estudantes do curso de graduação em Biotecnologia do Campus São Carlos da UFSCar ilustra a relevância de oportunidades dessa natureza. Vinicius Fresca da Costa, Bianca B. Bissoni e Murillo Leite Algarte fizeram intercâmbio para os Estados Unidos entre 2015 e 2016, por meio do programa Ciência sem Fronteiras, com excepcional desempenho acadêmico que resultou na inclusão de seus nomes nos Quadros de Honra (Dean’s List) das universidades em que estudaram - Kent State University, Purdue University Calumet e State University of New York, respectivamente.

Para Algarte, o período na universidade norte-americana foi "a melhor oportunidade que já tive na vida". O estudante, que faz questão de registrar a qualidade da recepção que teve e, muito especialmente, a importância do curso de Inglês que frequentou nos dois primeiros meses para sua adaptação ao novo contexto, destaca também o fato de ter conseguido matrícula em disciplinas que exigiam vários pré-requisitos, devido ao currículo do curso na UFSCar. Dentre estas, Algarte enfatiza como importante a opção de realizar cursos que não teria a oportunidade de frequentar no Brasil. "Eu me inscrevi em matérias como Ciência Forense e Tópicos Especiais em DNA Forense, ambas disciplinas incríveis, em que estudei análise de impressões digitais, armas de fogo, odontologia forense, análise do padrão de respingos de sangue, dentre vários outros temas, e tudo isso lecionado por um especialista, cujos exemplos mostrados em aula eram todos reais, de casos solucionados por ele mesmo, o que fez com que meu interesse pela área se tornasse ainda maior", relata. O estudante também teve a oportunidade de realizar estágio em Honolulu, no Havaí, no qual trabalhou com outros temas bastante diversos, na área de Ecologia Molecular, como camaleões invasores, conservação de caramujos e águas-vivas, dentre outros. "Esse estágio continua sendo essencial para a minha formação, aprendi muitas coisas novas e em uma cultura totalmente diferente, atuei não apenas no laboratório, mas também com trabalho de campo, e já tenho até propostas de trabalho e pós-graduação nos Estados Unidos e em outros países", conclui.

Vinicius Fresca da Costa também atribui imensa relevância ao período no exterior, e diz que se sente em dívida, com o compromisso de investir na Ciência brasileira após a oportunidade da qual pôde usufruir. Ao comparar os estudos nos Estados Unidos com a experiência no Brasil, Costa comenta as aulas mais curtas na universidade norte-americana - com 75 minutos no máximo -, com o aprofundamento acontecendo nos estudos individuais, e a realização de várias avaliações intermediárias, o que, na sua percepção, favorece o acompanhamento da aprendizagem e, consequentemente, a qualidade do aprendizado. É, inclusive, a esses aspectos que o estudante atribui a sua inclusão entre os melhores alunos da instituição. "Além do tempo disponível, eu também escolhi as matérias de que mais gostava, e assim tinha muito interesse nos assuntos tratados. Mas o principal mesmo era o espaço para estudar, o fato do estudo não ser uma atividade mecânica. Não dá para se aprofundar quando temos três provas em um dia!", registra o estudante enfaticamente, acrescentando a essa avaliação também a diversidade de metodologias de ensino empregadas pelos professores. Mas os elogios de Costa não estão reservados à instituição estrangeira. "Nós temos o nosso 'complexo de vira-lata', mas os brasileiros se destacavam tanto na sala de aula quanto nos laboratórios. A única disciplina em que tive um pouco de dificuldade era de pós-graduação! Nós tínhamos a base de conhecimento necessária, e também éramos considerados dinâmicos, flexíveis", conta o estudante.

"Anualmente, organizamos aqui na UFSCar o evento que chamamos de 'Sharing', no qual os estudantes compartilham suas experiências sobre ensino-aprendizagem no exterior, as quais estimulam reflexões sobre a prática didático-pedagógica. Temos acompanhado com muita atenção os intercambistas do curso de Bacharelado em Biotecnologia e, ano após ano, eles têm se dedicado e se destacado por onde passam. E, em seus depoimentos, eles declaram que a alta qualidade do curso na UFSCar é um fator importante para esse bom desempenho nas universidades estrangeiras", compartilha Francis de Morais Franco Nunes, docente do Departamento de Genética e Evolução da UFSCar, que leciona no curso de Biotecnologia.

Confira mais informações sobre o Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia e sobre o Bacharelado em Biotecnologia oferecido no Campus São Carlos da Universidade. A Universidade também oferece o Bacharelado em Biotecnologia no Campus Araras.