Notícia

Denise Britto - Publicado em 11-05-2017 13:00
UFSCar e Natura se unem para preservação e manejo de espécie da Amazônia
Parceria UFSCar e Natura: uso sustentável da Ucuuba na produção de cosméticos. Foto: Reprodução
Parceria UFSCar e Natura: uso sustentável da Ucuuba na produção de cosméticos. Foto: Reprodução
O projeto "Conservação e Manejo de Recursos Genéticos de Ucuuba", realizado em parceria entre a UFSCar e a empresa de cosméticos Natura, é um dos finalistas no Prêmio Nacional de Biodiversidade 2017, promovido pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). O trabalho foi desenvolvido na região do estuário amazônico, de 2012 a 2016, e desencadeou ações de proteção, manejo e uso sustentável de espécies de várzea amazônica, a partir do conhecimento da biologia e genética das espécies. O foco do projeto foi a espécie ucuuba, árvore ameaçada de extinção, cujas sementes são utilizadas na linha Ekos Ucuuba, da Natura.

O projeto foi coordenado pelo Laboratório de Sementes e Mudas Florestais (Lasem) do Campus Sorocaba da UFSCar, em parceria com o Setor de Inovações Tecnológicas da Natura. Participaram comunidades locais, cooperativas e produtores. Juntos, os parceiros realizaram desde inventários para avaliar a presença das espécies até a definição das técnicas adequadas de manejo de acordo com o conhecimento tradicional. 

"A ucuuba sempre teve muito potencial para a utilização do homem, desde a madeira até as sementes. A Natura percebeu a possibilidade de usar essas sementes em cosméticos, mas, para tanto, estabeleceu como condição de manejo promover atividades de conservação da espécie", conta a professora Fatima Piña-Rodrigues, do Departamento de Ciências Ambientais (DCA) da UFSCar, líder do Lasem e do projeto. Desde 1975, ela estuda e atua na conservação da ucuuba na Amazônia. "Em 1996 conseguimos colocar essa espécie na lista de ameaçadas em extinção e suspender o seu corte para uso madeireiro", lembra a professora cujos estudos foram alvo do interesse da Natura.

"Nossa proposta para a Natura foi ousada. Não poderíamos trabalhar com uma espécie que tem valor social tão grande se não fizéssemos um plano de manejo em conjunto com as comunidades locais", destaca a pesquisadora. O projeto se concentrou na região do estuário amazônico, que compreende toda a região no entorno da Ilha de Marajó (PA), incluindo quatro cidades e suas comunidades. "Pelo histórico, ali se concentrava a primeira etapa de produção da Natura, onde se encontram os fornecedores da matéria-prima", conta Piña-Rodrigues. 

No projeto, a Natura foi responsável por identificar as comunidades fornecedoras. "Todo o fornecimento para a empresa teria que seguir o plano de manejo que nós estabelecêssemos. O plano foi desenvolvido a partir do nosso conhecimento técnico-científico na área de conservação, aliado ao conhecimento tradicional das comunidades que fornecem a matéria-prima e ao agente comprador e usuário, no caso, a Natura", explica Piña-Rodrigues. "O trabalho evolvendo os três grupos foi muito produtivo", completa a pesquisadora.

A UFSCar e a Natura atuaram lado a lado com quatro comunidades da região amazônica. Uma delas no município de Cotijuba (PA), com o Movimento das Mulheres das Ilhas de Belém (MMIB). "Envolvemos jovens, idosos e, principalmente, mulheres; integramos o conhecimento dos idosos à ação dos jovens e das mulheres, para empoderá-las", explica Piña-Rodrigues. As outras comunidades envolvidas foram as das cooperativas  Cofruta, na cidade de Abaetetuba (PA), que reúne produtores de frutas como açaí, andiroba e de várias espécies como a semente da ucuuba; Cart (Cooperativa Agrícola Resistência de Cametá), na cidade de Cametá (PA); e Caepim (Cooperativa Agrícola de Empreendedores Populares de Igarapé-Mirim).

Etapas do trabalho
O projeto foi dividido em duas etapas principais. Na primeira, foi feito o resgate do conhecimento das comunidades e levantamento do histórico do uso da ucuuba em cada região. Em seguida, a equipe da UFSCar definiu, junto às comunidades e aos técnicos de planejamento da Natura, as estratégias para áreas modelos. "São áreas em que tivemos monitores, ou seja, pessoas das próprias comunidades, donas da terra, que atuavam conosco para colaborar na elaboração do plano de manejo. Também fizemos um curso de capacitação de técnicas para troca de experiências e informações, construindo um modelo de manejo participativo para essas áreas", conta Piña-Rodrigues.

Na segunda etapa, foi realizado o inventário, com o levantamento de árvores da ucuuba e outras espécies potenciais. "Costumamos dizer que uma espécie está sempre 'casada' com outras como, por exemplo, a andiroba e o açaí. Então, o ideal é que as comunidades fizessem o manejo da maneira sustentável, considerando não apenas a ucuuba", afirma a pesquisadora da UFSCar. 

Na sequência, durante um ano, a UFSCar realizou estudos de genética com coleta de material de cada uma das árvores. "Verificamos se, quando levamos a semente, não retiramos material genético e causamos o empobrecimento daquela área, diminuindo a variabilidade dessa população natural. Assim, poderíamos atuar sem causar danos genéticos, contribuindo, então, para a conservação genética da área", detalha a pesquisadora. Com base nesse estudo, os fornecedores da Natura têm a responsabilidade de cuidar das áreas de acordo com as práticas de bom manejo estabelecidas de forma participativa com as comunidades envolvidas. Uma das diretrizes do Manual de Boas Práticas elaborado, por exemplo, é de que a cada 20 quilos de fruto seco de ucuuba vendidos para a empresa, devem ser plantadas duas mudas. 

"Além disso, preconizamos várias técnicas de coleta para não causar impacto. Não se pode colher todas as sementes de uma árvore de ucuuba", exemplifica Fátima, "pois uma parte das sementes fica para os animais, outra parte fica para a própria planta para que ela tenha 'filhotes' (termo usado pela própria comunidade para designar as mudas deixadas no campo) e a outra parte, que não seria utilizada pela árvore, é coletada", completa a professora da UFSCar. As práticas de manejo também incluem orientações como limpeza, conservação e transplante de "filhotes" ao sol.

Além da premiação do Ministério do Meio Ambiente, a parceria continua rendendo mais frutos. "Estamos elaborando o Manual de Boas Práticas do Manejo da Ucuuba, que será publicado pela Natura, e escrevendo um livro que reúne dados sobre a ucuuba e de várias espécies que a empresa tem trabalhado", destaca Piña-Rodrigues. 

Votação
Os projetos finalistas do Prêmio Nacional de Biodiversidade, do MMA, concorrem na categoria de Juri Popular. Para votar, acesse o link http://pnb.mma.gov.br/juri_popular, clique no projeto "Conservação e Manejo de Recursos Genéticos" e, em seguida, clique em "Registrar Voto", no final da página. O vencedor do Júri Popular e das demais categorias serão anunciados na cerimônia que ocorrerá no dia 22 de maio de 2017, em Brasília (DF). Mais informações também podem ser obtidas pelo Facebook, na página da Rede Mata Atlântica de Sementes Florestais.