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Fabricio Mazocco - Publicado em 23-06-2017 13:00
Professor lança livro com textos inéditos de José de Alencar
Capa do livro lançado pela EdUFSCar. Imagem: Reprodução
Capa do livro lançado pela EdUFSCar. Imagem: Reprodução
A EdUFSCar está lançando o livro "Ao correr da pena (folhetins inéditos), de José de Alencar", que contém oito textos inéditos do autor romântico. O livro é organizado por Wilton José Marques, docente do Departamento de Letras (DL) da UFSCar, que encontrou os textos.

A publicação traz folhetins inéditos publicados no jornal carioca Correio Mercantil, na coluna "Ao correr da pena", entre setembro de 1854 e julho de 1855. Em 1874, diversos textos de Alencar foram reunidos no livro que traz o mesmo nome da coluna, organizado por José Maria Vaz Pinto Coelho, um grande admirador do escritor. "O que descobri foi que estes oito textos que trago no livro não tinham sido mencionados por José Maria. E é exatamente em tentar explicar por que os textos não foram incluídos naquela primeira edição que foco minha atenção", explica Marques.

Os textos são ditos inéditos pois nunca foram republicados, não foram recolhidos e nem estudados. A novidade é que Marques desenvolveu uma tese sobre a não publicação dos oito folhetins de Alencar. "No livro, além obviamente de apresentar os folhetins, eu faço uma introdução, que intitulei de 'O enigma dos folhetins', em que procuro apresentar uma leitura dos textos excluídos e, ao mesmo tempo, mostrar, através do levantamento de vários indícios, que muito provavelmente foi o próprio José de Alencar que pediu a exclusão deste material da edição do livro de José Maria, publicado em 1874", relata o pesquisador da UFSCar.

O folhetim é um tipo de texto publicado nos jornais. Nos folhetins de "Ao correr da pena", publicados aos domingos, o escritor amarrava vários assuntos que tinham sido abordados durante a semana, sobre temas relacionados a política, cultura, guerra, dentre outros. "Em um dos folhetins, por exemplo, Alencar fala, com ferina ironia, sobre a criação da máquina-deputado, que é movida pelo interesse, agente de maior força que o vapor, e o mais poderoso que se conhece hoje. O maquinista chama-se ministro, e quando a máquina se enferruja um pouco, aplica-lhe, em vez de azeite, pão-de-ló (gíria da época para propina). Num momento que ele era deputado e tinha sido ministro, ficaria ruim para sua imagem trazer à tona este texto. Daí o motivo de pedir para que fosse omitido", defende o autor.

O professor chama a atenção para a presente situação política do Brasil e para a atuação dos deputados e como é impressionante a atualidade da caracterização dos deputados do Império feita por Alencar em seu folhetim. Depois de afirmar que eram movidos pelo interesse pecuniário, o autor romântico acrescenta: "Esta máquina serve para votar, levantando-se e sentando-se para dar apartes, fazer cauda aos ministros nas ocasiões necessárias, preencher o número de deputados que as constituições exigem, e finalmente para resistir aos deputados-homens, gente de consciência, que tem a balda de só apoiar os governos ilustrados. Bem se vê, que para semelhante fim era escusado nesses países empregar-se um homem livre e inteligente, e que basta uma máquina, a qual não possa opor tropeços à marcha da administração".

Marques é professor associado de Literatura Brasileira e Teoria Literária do DL, do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura (PPGLit) da UFSCar, e professor credenciado no Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara. Em 2011, recebeu o prêmio Jabuti na categoria Crítica e Teoria Literária pelo livro "Gonçalves Dias: o poeta na contramão", publicado pela EdUFSCar em 2010. Posteriormente, publicou 11 verbetes no "Le dictionaire universel des creatrices" (Éditions Des Femmes, 2013) e, mais recentemente, "O poeta do lá" (EDUFSCar, 2014) e "O poeta sem livro e a pietà indígena" (Editora da Universidade de Campinas - Unicamp, 2015).