Notícia

Fabricio Mazocco - Publicado em 09-10-2017 13:00
Livro da EdUFSCar aborda literatura de cunho libertário
Lançamento da EdUFSCar. Imagem: Reprodução.
Lançamento da EdUFSCar. Imagem: Reprodução.
O livro "Escritas Libertárias", de autoria de Vera Chalmers e publicado pela Editora da UFSCar (EdUFSCar), aborda a literatura de cunho libertário ou a respeito do anarquismo nacional e internacional, no período compreendido entre o fim do século XIX e a Segunda Guerra Mundial.

"Meu interesse pela escrita dos jornais anarquistas data de 1982, quando iniciei minha pesquisa no Arquivo Edgard Leuenroth, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp [Universidade Estadual de Campinas]. Fui convidada pelo historiador Michael Hall a visitar o acervo dos jornais anarquistas da coleção de Edgard Leuenroth, os quais estavam em processo de microfilmagem, mas ainda pude folheá-los em papel. Fiquei entusiasmada com a perspectiva de pesquisa, que se abria diante de mim, no que diz respeito à minha área de atuação - a literatura", lembra a autora, que é graduada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) e tem mestrado e doutorado sob orientação de Antonio Candido de Mello e Souza no Departamento de Teoria Literária da USP. Chalmers é livre-docente pela Unicamp.

O livro traz escritos que são fruto de pesquisa em bibliotecas e acervos públicos e particulares no Brasil e no exterior. "Dediquei-me a buscar a publicação do folhetim nacional e estrangeiro, publicado nesta imprensa. E ainda percorri a publicação da dramaturgia de cunho anarquista, reunida em livro ou publicada nas folhas dos jornais. De início dediquei-me à pesquisa dos jornais anarquistas publicados em Português, tais como: A Terra Livre, A Lanterna, A Plebe, entre outros", descreve Chalmers.

Cada capítulo do livro aborda uma obra específica estudada pela autora. Um deles, por exemplo, é o romance "Os comuneiros", de Carlos Malato. "O romance, situado na vertente do anarcocomunismo, constrói a trama da conspiração dos Comuneiros. Porém, o romance de Carlos Malato não é apenas uma obra doutrinária, mas um bem-sucedido folhetim na qual as peripécias se multiplicam em torno da trama central, que é a Revolução das Comunidades de Castela", explica a autora.

A obra de Chalmers trata da literatura de cunho libertário, não necessariamente reprodutora do ideário anarquista. Desta forma, por meio deste tipo de literatura, o livro abrange aspectos da história do movimento operário, principalmente na Espanha, na Itália e no Brasil; e as análises atingem também publicações da Argentina e de Cuba.

Outro exemplo é a publicação do romance "As minas de prata", de José de Alencar, pelo periódico "Voz do Povo". "O ambicioso projeto de publicar em periódico um romance de 72 capítulos contrasta com a irregularidade e as condições materiais adversas de produção deste meio de comunicação: o jornal militante. Os editores repetem as práticas românticas, tais como a venda por subscrição, mas a edição do romance em série segue a estratégia de manter em circulação o periódico nos momentos de retração do movimento operário, contrariamente à relação de mercadoria da edição burguesa", diz Chalmers.

Ligia Chiappini, professora titular de Literatura e Cultura Brasileiras no Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Livre de Berlim, define a pesquisa de Chalmers: "Trata-se de um trabalho inédito de literatura comparada, não apenas porque resume, analisa e interpreta textos de gêneros diversos de literatura não canônica, mas porque estes são lidos à luz de obras e autores paradigmáticos da literatura tida por universal".

Saiba mais sobre o livro no site da EdUFSCar.