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Gisele Bicaletto - Publicado em 09-11-2017 13:00 - Atualizado em 09-11-2017
Projeto realiza ações para fortalecer assentamento rural de São Carlos
Mutirão realizado pela UFSCar no Assentamento Santa Helena (Foto: Rodolfo Figueiredo - DCAm/UFSCar)
Mutirão realizado pela UFSCar no Assentamento Santa Helena (Foto: Rodolfo Figueiredo - DCAm/UFSCar)
Um projeto de extensão da UFSCar desenvolve, desde maio de 2017, trabalho no Assentamento Rural Santa Helena, localizado na Represa do 29, em São Carlos. A iniciativa pretende fortalecer o local com ações que tenham a participação da comunidade assentada, de alunos e docentes da Instituição, com base no conceito da resiliência socioecológica. 

A resiliência socioecológica significa buscar formas de analisar e lidar com as mudanças ambientais, sociais, governamentais, dentre outras, considerando a realidade e as necessidades dos sistemas socioecológicos - formados por comunidades humanas em interação com a natureza -, como os assentamentos rurais, por exemplo.

Rodolfo Antônio de Figueiredo é docente do Departamento de Ciências Ambientais (DCAm) da UFSCar e coordena o projeto de extensão "Ações para fortalecimento da resiliência do sistema socioecológico Assentamento Rural Santa Helena, município de São Carlos (SP)", que conta com oito integrantes, entre professores e estudantes de graduação e pós-graduação da Universidade. De acordo com ele, a resiliência socioecológica busca manter as características das pessoas e do ambiente que estão no sistema socioecológico de modo a garantir que elas sobrevivam às mudanças. O professor aponta que o Assentamento Santa Helena foi escolhido porque é um sistema socioecológico em funcionamento e tem importância social na cidade, visto que seus produtos orgânicos são vendidos em feiras e servidos em escolas de São Carlos. O assentamento produz, em sua maioria, hortaliças, cultivadas por várias famílias que residem no local, composto por 14 lotes, com 3,5 hectares cada.

"Nossa questão inicial foi analisar quais características desse sistema socioecológico precisavam ser mantidas frente a diferentes tipos de mudanças, considerando as dificuldades que essa comunidade tem no acesso à educação, à saúde e ao transporte", afirma Figueiredo. Ao mesmo tempo, há a preocupação ambiental que envolve a análise de quais espécies estão presentes na comunidade, que áreas têm ou não cobertura vegetal, quais alimentos são produzidos e as técnicas  utilizadas. "Procuramos ter o olhar mais holístico possível e buscar soluções conjuntas com os assentados", explica o professor. Além das reuniões internas, o grupo mantém encontros semanais na comunidade para conhecer os problemas e levantar possíveis ações que possam solucioná-los.

Como exemplo, Figueiredo cita o caso de uma senhora, agricultora no assentamento, que tem seu lote em local com maior dificuldade de acesso à água e, por ser sozinha, também enfrenta limitações no cultivo. "Pensamos no caso dessa senhora e levamos a proposta de implantar no lote dela o sistema agroflorestal, em que a produção de alimentos é integrada com plantas nativas. Após algum tempo de funcionamento, esse sistema exige menos esforço do produtor, demanda menos água e gera renda da mesma forma. Apesar de não conhecer a técnica, a agricultora decidiu iniciar o sistema em parte do seu lote para aferir os resultados", conta Figueiredo. Daniel Costa, professor do DCAm que integra a equipe do projeto, também avaliou o local e está pesquisando alternativas de baixo custo para melhorar a distribuição de água.

Uma das primeiras ações do projeto no assentamento foi a realização de um diagnóstico participativo. "A principal questão que levantamos é a falta de mais pessoas para atuar no cultivo dos alimentos. A maioria dos agricultores de lá tem mais de 60 anos e acabam enfrentando dificuldades em suas produções", relata o coordenador. Nesse caso, a solução encontrada foi promover mutirões com os estudantes da Universidade que vão até o assentamento para ajudar no cultivo. "Já realizamos dois mutirões e o saldo é positivo. Os alunos têm interesse em aprender técnicas agrícolas, construção de canteiros e adubação, que são conhecimentos dos assentados. Ao mesmo tempo, os estudantes interagem com a comunidade e ajudam na produção. Unimos o conhecimento da academia com a experiência popular", destaca Figueiredo.

Ao longo deste ano, outras atividades também foram realizadas. A equipe da UFSCar atuou na organização da I Semana de Agricultura Orgânica de São Carlos, em setembro, que deu maior visibilidade ao assentamento e sua produção; e da Festa Julina da comunidade, que foi promovida com o objetivo de levantar recursos para aquisição de um equipamento agrícola. "Também fizemos reuniões para apresentar aos agricultores o conceito da resiliência socioecológica e suas premissas principais, a diversidade biológica e o capital social. Ou seja, a necessidade de diversificar a fauna e a flora do local e a de maior interação entre os agricultores para que o assentamento esteja fortalecido frente a qualquer mudança que surgir", conta o docente.

Todo esse trabalho já tem mostrado efeitos positivos. "Além dos benefícios gerados para essa comunidade rural, o projeto da Universidade tem relevância acadêmica, pois novos conhecimentos estão sendo adquiridos. O conceito de resiliência socioecológica é forte, mas é novo. Com esta ação, estamos levantando questões que podem ser teorizadas depois, são novos conhecimentos para a literatura científica da área", avalia Figueiredo. Para o próximo ano, a expectativa da equipe da UFSCar é dar continuidade e avançar nas ações junto ao Assentamento Santa Helena, mas a coordenação já planeja estender a iniciativa para outras comunidades rurais da região.