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Adriana Arruda - Publicado em 16-05-2018 13:00
UFSCar testa tecnologias para automação de sistemas agrícolas
Interface do aplicativo (Foto: Janaína Fesliberto/CCS-UFSCar)
Interface do aplicativo (Foto: Janaína Fesliberto/CCS-UFSCar)
A falta de alternativas eficientes para a fertilização em ambientes protegidos que não causem a salinização do solo é uma realidade no cenário brasileiro. Procurando atender a essa demanda do mercado agrícola, novas tecnologias estão sendo desenvolvidas, como é o caso de fertilizantes de liberação controlada, que utilizam polímeros biodegradáveis para levar os nutrientes às plantas. 

É nesse contexto que um estudo do Centro de Ciências Agrárias (CCA) no Campus Araras da UFSCar tem o objetivo de testar a eficiência de polímeros fertiliberadores comparados à fertirrigação na cultura do tomate. A fertirrigação é uma técnica consagrada na agricultura, que disponibiliza nutrientes às plantas via água de irrigação. Além disso, a pesquisa utiliza sensores de umidade e condutividade elétrica do solo, que automatizam o manejo da irrigação e verificam sua interação com os polímeros fertiliberadores.

O projeto de Iniciação Científica - financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) - é conduzido por Maria Eduarda Stochi Conchesqui, com colaboração de Marília Bueno da Silva, ambas alunas do quinto ano de Engenharia Agronômica da UFSCar, sob orientação do professor Claudinei Fonseca Souza, do Departamento de Recursos Naturais e Proteção Ambiental (DRNPA-Ar) da Universidade. "O experimento é realizado em casa de vegetação com a cultura de minitomate Grape e analisa critérios como tamanho, pH, teor de sólidos solúveis dos frutos, além da massa seca e teor de nutrientes das folhas. Essas características serão, depois, relacionadas com a produtividade final obtida, possibilitando a comparação entre as diferentes formas de adubação. Ao longo do processo, também analisaremos a economia de água e nutrientes", explica Souza.

Segundo o docente, o manejo da água e nutrientes está sendo conduzido por meio de um sistema de automação, realizado por um controlador de irrigação instalado na área experimental e que trabalha armazenando e analisando os dados coletados através da recepção de sinal de wi-fi. "Por meio do aplicativo desse controlador, é possível ligar e desligar a irrigação manualmente e de maneira instantânea ou programar para um horário específico do dia, de forma automática. O aplicativo permite que seja verificada, também, a necessidade hídrica da planta, levando em consideração dados de sensores de umidade e condutividade elétrica no solo e correlacionando-os à evapotranspiração da planta e dados de pluviosidade. Isso possibilita que o sistema aborte uma irrigação programada e, consequentemente, economize água em momentos que ocorre uma chuva, por exemplo, uma vez que a necessidade da planta já foi suprida pela precipitação", detalha o orientador.

O sistema, portanto, pode auxiliar na tomada de decisão de quando e quanto irrigar determinada cultura, tendo como base a água disponível no solo. Assim, a tecnologia permite que o sistema dite o turno de rega necessário para as plantas de forma inteligente e eficiente, visando à sustentabilidade dos recursos naturais - água e nutrientes. Além disso, o controlador automático se interliga a um assistente pessoal digital, que conta com uma interface via voz para os comandos de programação do manejo da irrigação. "Isso torna o sistema mais amigável ao agricultor irrigante", defende o pesquisador.

Caso sejam comprovadas como satisfatórias, essas tecnologias poderão trazer diversos benefícios aos produtores. "Elas facilitam o dia a dia do produtor no momento do manejo da sua irrigação, permitindo que ele a ligue em qualquer lugar com sinal de Internet e pelo tempo desejado", afirma Souza. Segundo ele, até o momento, a maior dificuldade com o manejo das tecnologias foi devido à debilidade de alcance da rede wi-fi. "Embora as inovações já sejam comercializadas pelo mundo, são pouco difundidas no Brasil - justamente por dependerem de uma infraestrutura de conexão com a Internet, que atualmente é deficitária na zona rural brasileira. Essa é uma lacuna que deve preenchida com o passar dos anos", acredita o docente.

Souza conta que o grupo escolheu testar as interações na produção do tomate Grape por ser uma cultura que, além de apresentar uma necessidade hídrica e nutricional expressiva, também possui alto valor agregado. "Considerando a relação custo-benefício, os produtores do Grape se beneficiarão muito com essa tecnologia", destaca o professor. Nesse sentido, o próximo passo é finalizar os testes e comprovar os resultados efetivos das tecnologias, para então disponibilizá-la aos produtores. 

As perspectivas futuras envolvem, também, a realização de testes do polímero de liberação controlada em diferentes doses e em outras culturas. "Queremos verificar se é possível economizar na quantidade de insumo e pretendemos realizar testes em outros cultivos além do tomate, tendo em vista que os polímeros têm uma tendência na liberação dos nutrientes e que cada cultura apresenta uma marcha específica de absorção, sendo possível que os resultados sejam diferentes para cada uma delas", conclui o professor.