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Denise Britto - Publicado em 16-05-2018 13:00
Estudo mapeia relação entre mídia, vertentes políticas e opinião pública
Sede da UNAM, na Cidade do México, onde professora realiza estágio pós-doutoral (Foto: PPGGeo-So)
Sede da UNAM, na Cidade do México, onde professora realiza estágio pós-doutoral (Foto: PPGGeo-So)
Como os jornais, representando correntes políticas e formando a opinião pública, eram capazes de influenciar as decisões políticas no Brasil? Essa é uma das questões que a historiadora e professora Rita de Cássia Lana, do Departamento de Geografia, Turismo e Humanidades (DGTH-So) do Campus Sorocaba da UFSCar, pretende abordar em sua pesquisa de pós-doutorado. Em seu "Estudo comparativo de aspectos da opinião pública no México e no Brasil através da imprensa no século XIX: a situação 1850-1870", ela busca mapear a influência de vertentes de pensamento político por meio de jornais da época, explicitando suas estratégias argumentativas e de difusão para conformar a opinião pública e influenciar os rumos nacionais. 

"Considerando que se faz história a partir do presente, é fundamental buscar no passado chaves de compreensão para problemas que estão no dia a dia contemporâneo", defende Lana. Ela explica que as práticas sociopolíticas e ideológicas denominadas de "laboratórios de ideias"  - think thank, na terminologia mais difundida - não são uma invenção do século XX ou XXI, mas antes uma configuração histórica herdeira, de algum modo, dos modelos experimentados no passado com grupos sociais de interesses específicos, aos quais correspondiam publicações como jornais e revistas que visavam alcançar apoio amplo da sociedade para suas demandas e interesses de classe. Nesse sentido, compreender as práticas sociais latinoamericanas de difusão de ideias e vertentes ideológicas naquele momento contribui para ajudar a pensar a sociedade do século XXI, na medida em que  possibilita perceber tensões e conflitos que, ao não se resolverem no percurso histórico, continuam a pautar os debates de hoje de alguma forma.

Para desenvolver sua pesquisa de pós-doutorado, a docente se encontra desde março de 2018 em atividade junto ao Centro de Investigações sobre América Latina e Caribe (CIALC), na Universidad Nacional Autónoma de Mexico (Unam), na Cidade do México. Ela ficará no México durante o período de um ano, tendo acesso direto aos acervos históricos mexicanos, com publicações e revistas da época investigada. Ela já realizou um levantamento inicial na Hemeroteca Nacional do México e na Hemeroteca da Fundação Biblioteca Nacional; ainda há outros acervos hemerográficos (ou seja, acervos constituídos por coleções de jornais, revistas, periódicos e publicações em série dentro de bibliotecas) como o Arquivo do Estado de São Paulo e a Biblioteca y Archivo del Instituto José Maria Luis Mora.

Em sua investigação, Lana utilizará o método histórico comparativo para lidar com questões e temas a respeito das duas nações em estudo, mas procurando "um constante respeito pelas diferentes visões de mundo". Ainda no campo metodológico, a pesquisadora adota a prosopografia - estudo das biografias coletivas de uma ocupação ou ofício - que, no caso delimitado, corresponde ao ofício de jornalista e editores de jornais. A data de previsão de término da pesquisa é março de 2019.

Convênio
O estágio da professora Rita Lana foi viabilizado pelo convênio firmado entre a UFSCar e a UNAM, no escopo de uma política institucional destinada a professores para estimular a realização de pesquisas de pós-doutorado, especialmente no exterior, em instituições de reconhecida excelência. Nesse contexto, o Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGGeo) da UFSCar - do qual Lana é professora - incentiva a realização de pesquisas de pós-doutorado com vistas à internacionalização, de acordo com as diretrizes do Ministério da Educação (MEC), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da própria Universidade.

"A acolhida da Unam e a experiência de viver no México é crucial para o meu estudo, pois proporciona acesso a uma visão ímpar em relação ao Brasil, tanto no que se refere ao passado quanto ao presente, abrindo portas para o estabelecimento de intercâmbios futuros entre a UFSCar e a Unam, seja pelo PPGGeo ou mesmo por convênios e cátedras que ampliarão o espaço de inserção da pesquisa brasileira na comunidade internacional, mas antes de mais nada construindo uma aproximação de esforços acadêmicos entre pares interessados na afirmação das identidades latinas e no compartilhamento de nossas diversidades socioculturais", conclui Lana.