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Gisele Bicaletto - Publicado em 18-05-2018 13:00
UFSCar promove ação no dia de combate ao abuso sexual infantil
Campanha visa combater o abuso sexual infantil (Imagem: Divulgação)
Campanha visa combater o abuso sexual infantil (Imagem: Divulgação)
Neste dia 18 de maio, o Brasil celebra o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. A data foi instituída oficialmente no País por meio da Lei 9.970, de 17 de maio de 2000, em memória do "Caso Araceli" - Araceli Crespo, menina de oito anos, que foi violentada e assassinada em 18 de maio de 1973. Neste dia, o Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual de Crianças e Adolescentes organiza e estimula a realização de diversas atividades pelo País sobre a prevenção contra a violência sexual.

De acordo com dados do Disque 100 - serviço para registro de denúncias disponibilizado pela Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República - em 2016, foram registrados 15.707 casos, sendo que 57% das vítimas tinham entre 0 e 14 anos; desse total, 13 mil foram atendidas. Em 2017, foram 22.324 denúncias de violência sexual registradas no Disque 100. 

Apesar desses números, há um deficit de informações sobre os casos de violência sexual infantojuvenil no Brasil. Para Sabrina Mazo, docente do Departamento de Psicologia (DPsi) da UFSCar e pesquisadora do Laboratório de Análise e Prevenção da Violência (Laprev) da Instituição, a subnotificação é um problema real. "Trabalhamos com a perspectiva dessa subnotificação já que muitos casos não chegam ao conhecimento dos órgãos de proteção devido ao medo e vergonha das vítimas e seus familiares, por exemplo. Isso certamente dificulta o estabelecimento de políticas que poderiam atuar no combate a esse tipo de violência", afirma a docente. 

Mazo alerta que o abuso sexual de crianças e adolescentes acontece em todas as camadas sociais, mas há mais denúncias entre aquelas que utilizam os serviços públicos de saúde, que são obrigados a notificar os casos. "Em contrapartida, nas classes sociais que acessam serviços particulares há uma dificuldade maior de identificação das ocorrências", acrescenta ela. Na maioria dos casos registrados, os abusos são cometidos por familiares ou pessoas muito próximas às vítimas. 

De acordo com a pesquisadora da UFSCar, a maior suscetibilidade de crianças e adolescentes a esse tipo de abuso se explica pelas características de dependência desse público; pelo fato das pessoas, muitas vezes, não acreditarem nos relatos (considerando-os como fantasia ou mentira); e também pela erotização infantil, dentre outros fatores. Para ela, a prevenção depende que pais e cuidadores, assim como a escola, fiquem atentos a sinais que podem denotar abusos, como mudanças de comportamento, alterações de hábito repentinas, retraimento, entre outros.

Muitas vezes por se sentir culpada, envergonhada ou acuada, a criança acaba não verbalizando que sofreu ou está sofrendo abusos. Em outras situações, a vítima tenta contar, mas não é ouvida. Assim, de acordo com a especialista, quando identificado algum sinal, o melhor a se fazer é, antes mesmo de conversar com a criança, procurar ajuda de um profissional que possa oferecer a orientação correta para cada caso.

Além disso, Mazo reforça que para mudar essa triste realidade é importante que a sociedade e o poder público promovam um "trabalho em rede, em que profissionais sejam sensíveis, não culpabilizem as vítimas e reconheçam os fatores de risco existentes". Ela também defende que é preciso favorecer canais de denúncia e serviços especializados com profissionais capacitados para atender as vítimas. Para mais informações sobre o Disque 100, acesse www.sdh.gov.br/disque100.

Atividades na USE-UFSCar
Para marcar a data, a Unidade Saúde Escola (USE) da UFSCar promoveu, nesta sexta-feira (18/5), a roda de conversa "Abuso sexual: comunidade UFSCar, vamos conversar sobre isso?". O evento contou com transmissão de webconferência sobre violência sexual, organizada Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, e com debate entre os participantes, mediado por Maria Tereza Ramalho, terapeuta ocupacional da USE-UFSCar. A atividade foi aberta aos alunos, servidores docentes e técnico-administrativos e terceirizados da UFSCar, profissionais e usuários da rede de saúde, e a todos os interessados em atuar como promotores da qualidade de vida de crianças e adolescentes.