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Denise Britto - Publicado em 25-10-2018 08:00
Workshop mapeia pesquisas sobre o Cerrado da UFSCar
Mesa de abertura do Workshop do Cerrado (Foto: Divulgação)
Mesa de abertura do Workshop do Cerrado (Foto: Divulgação)
Debate de métodos de manejo e práticas de conservação. Orientações sobre o uso público do Cerrado da UFSCar. Apresentação de pesquisas e projetos de extensão relacionados ao bioma. Estas foram algumas realizações da primeira edição do Workshop do Cerrado da UFSCar, que aconteceu de 15 a 17 de outubro, no campus sede da Universidade. O evento contou com um total de 147 inscritos, entre pesquisadores, estudantes, professores e outras pessoas interessadas no assunto.

A abertura do Workshop teve a participação da Reitora da UFSCar, Wanda Hoffmann, que classificou o Cerrado como "um privilégio" e como um bioma "inspirador", salientando o papel de toda a comunidade na sua preservação. "Em outros eventos sobre o Cerrado, eu aprendi não só a contemplá-lo como um ambiente da Natureza, mas também sobre o seu valor. O Cerrado é considerado uma savana tropical, uma riqueza de biodiversidade. Preservar esse bioma é fundamental para nossa universidade, para São Carlos, para o estado de São Paulo e para o País. Assim, a responsabilidade sobre o Cerrado envolve toda a comunidade, interna e externa, da UFSCar", disse Hoffmann.

A Reitora também destacou o papel estratégico da UFSCar em relação ao Cerrado: "Trata-se de uma fonte inesgotável de pesquisa para a Universidade. Por isso, somos responsáveis pela sua preservação e pela sensibilização das pessoas para o sentimento de pertencimento a esse ambiente".

A palestra de abertura destacou o fragmento de Cerrado da UFSCar em um contexto mais amplo de conservação de áreas remanescentes desse bioma no País. A programação também contou com palestra sobre corredores ecológicos e sua importância para a dispersão de espécies em ambientes com paisagem fragmentada, como é o caso da região de São Carlos; discussões sobre métodos de restauro e sobre o uso público do Cerrado, visando ao envolvimento da comunidade nas definições sobre a utilização da área; e palestra sobre plantas invasoras, alertando para o risco que essas espécies representam em áreas a serem conservadas. 

Durante o Workshop, também houve a apresentação do projeto de Diagnóstico dos Conhecimentos Produzidos no Fragmento de Cerrado da UFSCar. "Este foi um primeiro passo no sentido de mobilizar pesquisadores para colaborarem nessa construção que irá fornecer subsídios para o melhoramento contínuo do processo de gestão da área", avalia a bióloga Liane Biehl Printes, chefe do Departamento de Apoio à Educação Ambiental (DeAEA) da Secretaria Geral de Gestão Ambiental e Sustentabilidade (SGAS) da Universidade.

Pesquisas sobre o Cerrado
Os trabalhos inscritos e apresentados no Workshop estiveram distribuídos em três eixos temáticos. "A maior parte dos trabalhos esteve relacionada à extensão, no eixo de Comunicação e Educação Ambiental. Além disso, foram apresentados resultados de pesquisas nos eixos Riqueza e Biodiversidade e Manejo e Ecologia", detalha Printes, uma das organizadoras do evento. "Além dos estudos apresentados, recebemos de autores que não puderam participar do Workshop relações de trabalhos antigos produzidos na área, o que contribuiu com um dos objetivos do encontro, que foi prover um diagnóstico inicial da produção científica e cultural desenvolvida no Cerrado da UFSCar", completa a bióloga.

Outro objetivo do Workshop foi discutir o Protocolo de Uso e Manejo das Áreas Naturais e de Plantio Comercial, que, segundo Printes, foi o ponto alto do evento. "As questões levantadas durante as apresentações foram incorporadas na discussão do Protocolo. Os aspectos elencados na versão inicial do documento foram amplamente debatidos e contribuições valiosas emergiram do público presente", destaca ela.

O Cerrado da UFSCar
Segundo informações da equipe da SGAS, as áreas de vegetação natural do Campus São Carlos que compõem o Cerrado da UFSCar somam aproximadamente 260 hectares, incluindo as áreas de preservação permanente e as áreas de reserva legal. O talhão central de vegetação nativa de Cerrado, que faz divisa com o Instituto Federal de São Paulo (IFSP), tem aproximadamente 48 hectares. As áreas apresentam diferentes estágios de regeneração e conservação, sendo que parte já está em regeneração mais avançada, com vegetação típica de Cerradão, enquanto outras estão bastante degradadas, necessitando de ações que possibilitem sua regeneração com melhor qualidade. 

No Campus São Carlos da UFSCar, em especial na área do Cerrado, já foram observadas 300 espécies de aves e 71 espécies de mamíferos, dados que correspondem a 37,8% e 28,6% do total de espécies dessas duas classes de animais no estado de São Paulo, respectivamente, de acordo com dados apresentados no próprio Workshop. Entre os mamíferos estão o lobo-guará, a onça-parda, o tamanduá-mirim, o tamanduá-bandeira, o veado-catingueiro, o tatu-galinha, várias espécies de morcegos, dentre outros. Entre as aves, estão o bico-de-pimenta, o soldadinho, o anu-preto, o pica-pau do campo, algumas aves migratórias como espécies de maçaricos e o falcão-peregrino. 

O fragmento de Cerrado da UFSCar também é rico em espécies de invertebrados e espécies vegetais. Entre os invertebrados, os destaques são os cupins e saúvas - importantes para decomposição dos restos vegetais, além de serem referenciados como "arquitetos do solo", contribuindo com a formação da porosidade do terreno. Algumas plantas típicas encontradas nas áreas do Cerrado da Universidade são o fruto-do-lobo, componente importante da alimentação do lobo-guará; o pequi, cujo fruto é utilizado na culinária, especialmente na região Centro-Oeste do Brasil; além de espécies arbustivas que mostram clara adaptação ao fogo, como o angico e o barbatimão.