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Fabricio Mazocco - Publicado em 29-11-2018 13:00
Premiado na poesia, docente da UFSCar publica primeiro romance
Imagem da capa do romance de Wilson Alves-Bezerra. (Imagem: Reprodução)
Imagem da capa do romance de Wilson Alves-Bezerra. (Imagem: Reprodução)
Premiado na poesia, o professor Wilson Alves-Bezerra, do Departamento de Letras (DL) da UFSCar, está estreando no romance com a publicação do livro "Vapor Barato" (Ed. Iluminuras).

O romance traz, em um divã, as angústias de seu protagonista, perseguido pelo medo vindo dos anos da ditadura militar no Brasil (1964-1985). "O romance é feito só de vozes: um personagem que se vê acossado pelas transformações políticas do País, e que tenta, num consultório de psicanálise, elaborar algo de seus pesadelos, medos e inquietações. E um psicanalista que se vê no impasse de como tratar alguém que parece, como diz o crítico Miguel Conde, nas orelhas do livro, estar doente do seu próprio país. Os capítulos do livro são as sucessivas sessões de análise", explica o autor.

A obra retrata estes dois personagens, em posições bem diferentes: o protagonista perturbado, por um lado, e o analista que se deixa perturbar. Eles revelam os impasses da dificuldade de escuta, da dificuldade das construções coletivas e da iminência do desastre. "Embora todos os diálogos aconteçam no consultório, os cenários são trazidos pelos relatos do paciente: o território da memória, o território dos seus sonhos e pesadelos e o território da imaginação. É o protagonista quem, fragmentariamente, conta sua vida, a partir do pesadelo da história que ele teme que se repita", detalha Alves-Bezerra, acrescentando que mais do que uma lembrança, a ditadura civil-militar brasileira surge como um resto ainda presente, nas relações sociais, na vida pública, no modo de agir da polícia, que vai ocupando insidiosamente o centro das preocupações deste homem.

O título do romance é uma homenagem à canção de mesmo nome, de Wally Salomão e Jards Macalé, imortalizada na voz de Gal Costa em gravação feita durante o regime militar. "É uma canção que fala do exílio, da impossibilidade de permanecer. Meu romance trata deste tema, da iminência do exílio, da perda do próprio país. O protagonista vai tecendo sua rede de memórias e afetos a partir de objetos, memórias e também de livros e canções. 'Vapor Barato' é uma destas canções que o acompanha. Este romance é sobre todos nós", afirma o autor.

Além da música, a construção do romance recebeu influências literárias latino-americanas. "No nosso continente, são os autores argentinos aqueles que melhor têm sabido articular o pensamento psicanalítico na literatura. Destacaria Luis Gusmán, de quem traduzi alguns romances e cuja agilidade do diálogo me interessava muito para construir esta obra. De uma geração anterior, Manuel Puig, autor de 'Boquitas Pintadas' e 'O Beijo da Mulher Aranha', que também propunha um diálogo atípico entre os dois campos, foi uma influência também", destaca o professor da UFSCar.

"Vapor Barato" é o primeiro mergulho de Alves-Bezerra no romance. Na poesia, recebeu o prêmio Jabuti por sua obra "Vertigens" (2015) e o seu último livro "O Pau do Brasil" (Urutau), acaba de ser lançado em Portugal. Além disso, seu livro de estreia será lançado em dezembro no Chile, com o título "Cuentos de Zoofilia, Memoria y Muerte", pela editora LOM. 

"Eu escrevo prosa há bastante tempo, embora só tenha publicado, até o momento, um livro de contos, o 'Histórias zoófilas e outras atrocidades' [EDUFSCar e Oitava Rima]. Mas mesmo meus poemas de 'Vertigens' e ‘O Pau do Brasil’ tem algo de narrativo. De toda forma, o romance tem outra arquitetura, personagens que podem ser explorados em maior extensão, nuances e que acompanham o leitor por mais de uma centena de páginas. É um desafio interessante!", conclui ele.

O romance "Vapor Barato" pode ser adquirido pelo site da Editora.