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Mariana Pezzo - Publicado em 12-08-2019 16:00
Evento internacional fortalece Geometria no estado de São Paulo
Paolo Piccione durante sua apresentação no evento (Foto: Edgar Fabricio - CCS/UFSCar)
Paolo Piccione durante sua apresentação no evento (Foto: Edgar Fabricio - CCS/UFSCar)
De 5 a 9 de agosto, São Carlos recebeu o evento internacional "Workshop on Submanifold Theory and Geometric Analysis" (Workshop em Teoria das Subvariedades e Análise Geométrica), realizado na UFSCar, em uma parceria do Departamento de Matemática (DM) da UFSCar com o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da Universidade de São Paulo (USP) e com o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Matemática (INCTMat), sediado no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa). O evento foi idealizado com o objetivo de promover a interação de geômetras brasileiros - especialmente os pesquisadores do estado de São Paulo - e seus colegas em outros países.

"O Brasil tem tradição forte na área, com a escola principal no Impa, no Rio de Janeiro. Nas últimas décadas, a Geometria veio se fortalecendo em São Paulo, e este evento teve o objetivo de divulgar os resultados desse trabalho", relata Paolo Piccione, Presidente da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), que participou do Workshop. "A Teoria das Subvariedades é uma área emergente em todo o mundo, com muitas novas ideias, e a Análise Geométrica, por sua vez, é uma área consolidada, com uma tradição local em São Carlos", complementa. "A programação foi configurada com espaços pensados para possibilitar uma apresentação mais aprofundada das pesquisas, visando um ambiente propício à troca de ideias e ao início de novas colaborações", explica Guillermo Antonio Lobos Villagra, docente do DM e um dos idealizadores do evento.

Para tanto, o Workshop contou com uma série de palestras com pesquisadores de várias partes do Brasil e, também, colaboradores de outros países que são referências na área, como Fernando Codá Marques - brasileiro hoje atuante na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos - e o argentino Carlos Olmos, da Universidad Nacional de Cordoba, na Argentina, dentre vários outros. Também aconteceram sessões de apresentação de trabalhos na forma de painéis e dois minicursos, que envolveram pós-doutorandos, estudantes de pós-graduação e alguns alunos de graduação. Piccione destaca essa disseminação do conhecimento junto aos jovens pesquisadores da área e, embora vislumbre limitações à divulgação junto a um público ainda mais amplo, ressalta o vínculo indissociável entre pesquisa e ensino. "É uma área difícil de divulgar, em que não é simples dizer quais aplicações poderão derivar do desenvolvimento teórico. Essas aplicações existem, mas talvez mais relevante seja termos claro que a formação de pesquisadores com visões avançadas na área é essencial também ao ensino da Matemática. Este é o diferencial da universidade pública, esse vínculo entre o conhecimento mais avançado na área e a educação", avalia o Presidente da SBM.

Guillermo Villagra, por sua vez, ressalta a relevância do evento em uma trajetória de consolidação da área na UFSCar. "A realização do Workshop é o ápice de uma série de eventos que vimos promovendo há mais de 10 anos com nossos parceiros no estado de São Paulo. Ele e vários outros eventos que aconteceram praticamente ao mesmo tempo nestas semanas, em que participamos da organização, mostram os resultados desse percurso", registra o docente da UFSCar. "A UFSCar é nossa principal interlocutora no diálogo entre universidades estaduais e federais no estado de São Paulo, e mostrar que esse diálogo é possível é fundamental. Se São Paulo ocupa uma posição privilegiada no cenário de Ciência e Tecnologia brasileiro, esta é também uma imensa responsabilidade, de fixar parâmetros, oferecer modelos, como este de interação", acrescenta Piccione, que é docente da USP.

Na entrevista concedida durante o Workshop, Paolo Piccione destacou também a importância do País avançar na área da educação matemática. "O desenvolvimento da produção científica ainda não foi acompanhado pelo mesmo avanço no ensino da Matemática. Eu gostaria muito que as crianças e jovens gostassem de Matemática e optassem por estudar Matemática, mas não é o que acontece. Precisamos avançar para mostrar que a Matemática é útil e, também, bonita", afirma, registrando a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) como uma iniciativa de sucesso nesse sentido. "Hoje são mais de 20 milhões de inscritos por edição. O avanço científico é uma escolha política, não há segredo: para avançar, é preciso investimento. No caso da Olimpíada, por exemplo, o Ministério da Educação entendeu a importância da nossa proposta, lá em 2005, investiu, e hoje nós colhemos os frutos do trabalho junto às escolas, com jovens bem formados que começam a iniciação científica ainda no Ensino Médio, entram em boas universidades e, através dessas experiências, podem ter a chance de uma vida melhor", conclui.