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Gisele Bicaletto - Publicado em 20-01-2022 12:00
Estudo analisa dor multirregional em profissionais da saúde
Premiação entre no XXI Congresso Brasileiro de Ergonomia (Imagem: Acervo pessoal)
Premiação entre no XXI Congresso Brasileiro de Ergonomia (Imagem: Acervo pessoal)
A pesquisa "Associação entre os aspectos psicossociais do trabalho e a dor multirregional em profissionais de saúde - estudo transversal", desenvolvida no Departamento de Fisioterapia (DFisio) e no Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia (PPGFt) da UFSCar, recebeu o prêmio de Melhor Pôster do XXI Congresso Brasileiro de Ergonomia, realizado em novembro do ano passado. O trabalho tem como autoras Tatiana Sato, docente do DFisio; Beatriz Suelen Ferreira de Faria, graduanda em Fisioterapia e pesquisadora de Iniciação Científica (bolsa Fapesp - 2020/06027-1); e Josiane Sotrate Gonçalves, doutora pelo PPGFt.

O estudo avaliou 55 profissionais de saúde do Hospital Universitário (HU) da UFSCar entre novembro de 2017 e fevereiro de 2018 por meio de dois questionários - um sobre aspectos psicossociais do trabalho e outro para investigar a dor multirregional (em diversas regiões do corpo de forma simultânea). Os dados foram analisados entre 2020 e 2021 e o levantamento mostrou que alguns aspectos psicossociais como conflitos entre família e trabalho, significado e compromisso com o trabalho e percepção geral de saúde foram associados com a dor multirregional nos profissionais de saúde.

Tatiana Sato relata que o conflito família-trabalho é uma problemática comum enfrentada pelas equipes de saúde. "O que encontramos nesse estudo foi que esse conflito entre trabalho e família aumentou a chance de o trabalhador relatar a dor multirregional. Em relação ao significado e compromisso com o trabalho, notamos que quanto maior a presença desses aspectos psicossociais no local de trabalho, menor a presença de dor multirregional entre os trabalhadores. Dessa forma, esses aspectos parecem ser fatores de proteção para a saúde dos trabalhadores e podem ser enfatizados como estratégias para melhorar as condições de saúde nessa população. A percepção geral de saúde também foi associada à dor multirregional, o que pode indicar que a dor multirregional afeta a saúde de forma global", detalha a docente. No entanto, ela reforça que os resultados foram obtidos em um estudo transversal e que somente uma pesquisa longitudinal teria uma conclusão mais precisa.

Sato acrescenta que esse assunto tem sido estudado com diversos grupos de trabalhadores e os profissionais de saúde são um dos grupos mais afetados, sendo que 66% relatam dor multirregional. "Esses trabalhadores têm que lidar com situações que envolvem altas demandas físicas, emocionais e mentais, tais como manusear pacientes, permanecer em pé e andando durante turnos de trabalho que podem durar até 12 horas. Além disso, lidam com a alta demanda de pacientes, a complexidade do cuidado, a convivência com a dor e sofrimento, falta de apoio de supervisores e colegas; todos esses fatores podem amplificar os efeitos da demanda física de trabalho na saúde desses profissionais", considera.

Nesse contexto, o estudo aponta para um caminho que possa tornar o trabalho mais significativo, oferecer suporte e assistência, valorizar e reconhecer a importância do trabalho e manter os profissionais de saúde ativamente dedicados. "Essas poderiam ser algumas medidas para melhorar as condições de trabalho e saúde nessa população. Além disso, caberia também compreender melhor as demandas físicas, mentais e emocionais do trabalho e porque o trabalho pode gerar conflitos na relação familiar", relata Sato. A professora da UFSCar destaca a importância dessa categoria profissional para a sociedade e reconhece que cuidar deles é também cuidar da saúde da população. "A melhora das condições de saúde desses trabalhadores irá resultar na melhora da qualidade de vida e, consequentemente, na qualidade do serviço prestado de forma segura, humana e eficiente", afirma.

O projeto foi premiado como o Melhor Pôster apresentado no XXI Congresso Brasileiro de Ergonomia, realizado entre os dias 23 a 26 de novembro de 2021. "Significa que nosso estudo rendeu bons frutos, além de ser reconhecido e valorizado", comemora Sato. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da UFSCar (CAAE: 64255917.7.0000.5504) e tem continuidade em uma investigação atual sobre os aspectos psicossociais, características do sono, sintomas musculoesqueléticos e depressão em trabalhadores de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), e conta com a participação de graduandos e pós-graduandos da UFSCar. A equipe está em fase de coleta de dados e os resultados serão divulgados em breve.